sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Depois do Encontro

Dispo o fato de treino. Olho para o computador desligado e penso por momentos que vou poder voltar atrás no tempo e recuperar o abraço quente e doce que recebi há duas horas, quiçá até o beijo roubado por amor, por paixão.
Tomo um banho rápido. Corro para o telemóvel com vontade de olhar para o minúsculo ecrã e encontrar um sinal de mensagem com remetente da pessoa mais amável deste mundo. Nada. O vazio enche-me o coração. Pego no pequeno aparelho e começo a escrever, mais uma daquelas mensagens lamechas mas que adoramos sempre receber, principalmente da pessoa que amamos ou dos nossos amigos mais próximos. «Mensagem Enviada», respiro fundo e visto-me.
Ligo o computador e de repente, uma chamada. A Bia, sempre com um riso aparente dirige-me um pequeno «olá!» e os barulhos ensurdecedores invadem os meus ouvidos. «É o Vasquinho, é?», «Olá Vasquinho», «Deixa-me falar com ele»!
Rio-me às gargalhadas. Depois de toda aquela viagem, nada mais reconfortante que ouvir aquela voz, embora que abafada por gritos, musicas e algazarra que se tinham instalado na camioneta de Alverca, provavelmente logo ao início da viagem de regresso a Lisboa. Acalmava-me, deixava-me pensar na vida, deixava-me sentir tudo, cheirar os sentimentos que pairavam no ar, o odor a perfume abundante no quarto. Respirei fundo mais uma vez, não por estar cansado ou desapontado, mas sim por estar feliz e confortável, deitado na cama a ouvir a melhor melodia do mundo, a voz dela. Não queria falar, apenas ouvir.
A chamada foi uma coisa rápida, ou pelo menos foi o que me pareceu. Não olhei para as horas, não me parecia ter passado assim tanto tempo. Só queria repetir aquele dia para sempre, recordá-lo como o momento inesquecível que é, o momento em que tudo veio ao de cima, o momento de me aperceber de tudo. Afinal, existe mesmo amor neste pedaço de vida dentro de nós. Adormeço.
Com um sonho estranho acordo. Duas horas da manha. Madrugada. Tinha deixado o computador ligado e o sinal do meu correio electrónico permanecia ali, a piscar. «Vou ver quem está on» pensei eu. O nome saltava à vista de qualquer um, ou pelo menos a mim sim. Provavelmente demasiado atento ao facto de estar ali a olhar para o nome dela, não reparei que havia milhões de conversas ligadas, um exagero claro. Olho para a primeira conversação, não me interessava, segunda, muito menos, terceira, o interesse sem despertar dentro de mim. De repente vejo o nome «Matos» e este sim, causou-me alguma curiosidade, afinal de contas tínhamos estado juntos há pouco tempo, com as pessoas que mais gostamos e ainda mal tínhamos falado do que acontecera. O tema não mudou muito durante toda a conversa. «Bia» para aqui, «Rita» para ali. Mas no fundo, era a única coisa sobre a qual tinha interesse em falar. Como se o mundo tivesse parado a partir daquele momento, como se o mundo não parasse de pensar naquele momento, tal como eu, como se toda a gente tivesse sentido aquele abraço, aquele beijo.
Para mim, a única coisa que interessava era o nome dela, o toque, o beijo, o abraço, o cheiro e o amor oferecido por prazer que ela me proporcionava. A cabeça abstraída de tudo o resto, o coração, como que se tivesse pensamentos ou impressões, a pensar constantemente naqueles olhos, naquele sorriso. Afinal, o coração sente, pensa e deseja.
Mudo de conversação. Mais uma vez vejo o nome cintilante e não resisto. Mais uma conversa que me parece curta. Olho mais uma vez para as horas. 3 Da manha e são hora de dormir. No dia seguinte a vida continua. Claro que a única coisa que eu queria era recordar, relembrar e reviver aquele momento vezes e vezes sem conta; queria que aquele dia nunca acabasse para que ficasse bem presente na minha memória. Devia já saber que, de facto, o momento não iria desaparecer de um momento para o outro, não iria desvanecer-se da minha mente assim tão cedo. «Teremos mais oportunidades» disse eu. Sorri para mim próprio e deitei-me na cama. O sono bater ao de leve nos meus olhos e os sonhos tomaram conta de mim.
Um barulho conhecido acorda-me. O sonho tinha sido óptimo. Olho em volta e reconheço a fonte de som. Sabia que se me levantasse que iria ver mais um sinal de «Mensagem Recebida». Nem dei tempo ao tempo para me levantar. Corri à secretária (se é que se pode chamar “correr” a “rastejar com sono”). Abro-a. Com as melhores palavras escritas o sorriso é quase que instantâneo, natural e suave. Aquela rapariga era a melhor que alguma vez conheci. Nem tinha eu noção da sorte de ter como minha a rapariga de sonhos de todos os rapazes do mundo.
(Quando se está apaixonado, por vezes não sabemos bem como nos dirigir a esse alguém especial. São as palavras que não fluem com a mesma naturalidade, os sorrisos mais forçados, as conversas mais tontas e os comentários sufocados. Com ela, sabia que era diferente. Era natural e lindo, lindo de se ver e sentir. O sonho que se abateu em mim, o sorriso que esboçava demonstrado a maior felicidade que se pode ter: amar e ser amado.)
Respondo com a maior das pressas, numa mensagem longa e lamechas. Até gostava de as escrever. Não são mensagens que se troquem com qualquer um, o que as tornam especiais, diferentes. Começo a ouvir musica, a nossa música.
Olho para a fotografia já guardada no telemóvel, com aquelas caras conhecidas e recordo pensativamente o dia anterior. O sonho total, o enquadramento perfeito. Uma vontade súbita de chorar sobe-me à cabeça. «Que estupidez a minha. Devia era estar feliz!» penso eu. Mas eu estava feliz. Apenas recordando tudo, tudo o que era perfeito naquele momento.
Olho mais uma vez, como se aquela fotografia fosse um doce apetecível. Estava a ficar maluquinho, só podia. Sorri abertamente, a vontade de chorar desaparecera, e ainda bem.
Abro a porta do quarto e olho para o «M» que se encontrava na porta, «Mickey». Os pensamentos, imagens, sentimentos e mágoas voltam. Como um ciclo sem fim. Um ciclo doloroso, mas tão perfeito.
«Doloroso…», que parvoíce. Perfeito sim, doloroso nunca. Apenas tinha de pensar que “visto que não estamos juntos muitas vezes, poucos serão os momentos a partilhar. Mas os que partilharemos serão mais perfeitos, mais bonitos e acima de tudo, mais especiais e inesquecíveis”.
Corro para a cozinha, a fome já aperta. Sorrio de novo.
A vida pode não ser perfeita, mas traz muita felicidade.



Vasco Nunes

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